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Tiago Lobo Pimentel

NOS DIAS QUE CORREM, HÁ TODA UMA MULTIDÃO DE ILUSTRADORES, AUTORES DE BANDA DESENHADA E CONCEPT ARTISTS PORTUGUESES A TRABALHAR, QUER PARA O MERCADO NACIONAL, QUER PARA CLIENTES ESTRANGEIROS, E MUITOS PASSAM DESPERCEBIDOS.

Neste recanto do site da Bang, vamos explorar esse mundo fervilhante de artistas e para o artigo inaugural conversámos com o multi-facetado Tiago Lobo Pimentel.

 

Profissionalmente, Pimentel considera-se um “artista digital” , mas o termo parece ainda assim incompleto. Sempre soube que queria fazer da sua profissão algo relacionado com as artes. Precisamente o quê, ficou por decidir até hoje. Depois de um primeiro fascínio pela banda desenhada americana e franco-belga, iniciou um curso de design gráfico e explorou o mundo dos jogos de computador e do web design. Aos 38 anos, trabalha regularmente como ilustrador e storyboarder nas áreas do editorial, publicidade, e videojogos, lecciona pintura digital num curso
de Concept Art e dedica-se, a nível mais pessoal, à pintura a óleo.

 

O trabalho

Mergulhou no mundo profissional enquanto ainda estudava no IADE, através de um estágio na Eworks, numa altura em que havia apenas um par de empresas de videojogos em Portugal, e em que fazer disso carreira ainda parecia impossível. Mais tarde, um convite para ser director de arte da equipa obrigou-o a uma decisão difícil, e lá acabou por abandonar o curso a meio. Seguiram-se mais dois empregos a tempo inteiro. «Estampei-me ao comprido a fazer web- -design, foi espectacular!», confessa.


Há coisa de oito anos, arriscou trabalhar exclusivamente em regime de freelance, não sem algum receio de não ter trabalho suficiente. «Eu acho que quem disser que não teve medo, não é uma pessoa sensata.» A transição foi algo acidentada, porque o seu portfólio de videojogos não era fácil de traduzir para os clientes editoriais e de publicidade. O primeiro ano foi desastroso, até. Foi preciso um portfólio feito de raiz, muita pesquisa e centenas de emails para conquistar o seu espaço. Se as coisas estão mais fáceis? «Posicionei-me no mercado da publicidade como um bombeiro, no sentido em que as pessoas sabem que, se a casa está a arder, eu entro e apago o fogo. Portanto, como resolvo problemas, sou chamado recorrentemente.»

 

Ganhou recentemente um concurso organizado pelo canal AMC, para a criação de um cartaz para
a série “Fear the Walking Dead”, e pode ver o seu trabalho numa tela gigante na zona de Santos,
em Lisboa. Esta visibilidade trouxe-lhe bastante mais trabalho realista para a área da publicidade.

 

 

 

 

Este ano foi ainda convidado pela Patrícia Reis, editora da Egoísta, para contribuir com uma ilustração para o número do 18º aniversário da revista. «O que propus foi um after party de uma festa de aniversário. Abordei varios temas típicos da passagem da adolescência para a idade adulta como a exploração sexual (a banana, a laranja e os preservativos), o lidar com a mortalidade ( a caveira), o tirar a carta ( o smart no bolo), a experimentação com drogas (o espelho e o cartão), o abandono da infância (o gameboy), o desejo de futuro (o fortune cookie), o fim do entitlement; e da diva; para ter que lutar e resolver os próprios problemas (a tiara).»

 

 

Vida de freelancer

Natural de Lisboa, Pimentel vive e trabalha em Carnaxide com a mulher Joana, o filho Simão e a gata Nisca. Estar sempre em casa torna-se mais fácil pelo facto de trabalhar com a mulher, também freelancer. «Vivemos a nossa vida em modo Sims, vinte e quatro horas por dia, e temos a mais-valia de sermos dois criativos, portanto eu sou o director de arte dela e ela é o meu.» A necessidade de socializar com o mundo exterior tornou-se ainda menor com o nascimento do
Simão, há quatro anos. «Absorveu tudo. Se não estamos a trabalhar, estamos a passear com ele,ou a ver o Cartoon Network».

As redes sociais acabam também por combater o isolamento e ajudar a manter o contacto com outros artistas na mesma situação profissional. Embora o trabalho em publicidade seja, pela sua natureza, impossível de partilhar, há ainda assim situações em que a opinião de alguns colegas, até de áreas diversas e que pensam de maneira diferente, é valioso.

As aulas

O ano passado, Tiago Pimentel embarcou ainda na aventura de dar aulas de Pintura Digital no curso de Concept Art da Etic. Até aí, a única experiência de ensino tinha passado por dar aulas de educação visual ao terceiro ano. «É giro ver miúdos mais soltos e mais destemidos do que uma pessoa já com vinte e tal anos, que tem muito mais dúvidas do que um miúdo, e isso é muito interessante.»
A experiência teve impacto a nível pessoal, já que confirmou as suas suspeitas de que tinha uma grande paixão por ensinar. «Quando digo paixão, é ver uma pessoa a entrar naquela aula e, passado um bocado, está com um sorriso porque conseguiu fazer uma coisa que uma hora antes não sabia. E sente uma enorme gratificação, porque às vezes um micro-passo em frente é gigantesco. Fico muito satisfeito por poder ver isso, até me esqueço de todo o lado burocrático.»
Profissionalmente, também teve um efeito inesperado, já que ao ensinar os outros, reforça a mensagem para si mesmo. «Quando estás a motivar alguém e dizes “Ah, vai lá correr!”, chegas a casa e pensas “Se calhar, também devia ir correr…”. Esse tipo de coisas funciona para os dois lados.»

Projectos pessoais

Foi uma conversa com Jeremy Mann durante o festival Trojan Horse was a Unicorn que o fez despertar para a pintura. Tiago mostrou-lhe um retrato digital que emulava a técnica da pintura a óleo, e o pintor disse-lhe algo de que não se viria a esquecer: «Se queres pintar a óleo, porque não pintas a óleo?»
Era a motivação de que precisava, já que vontade de fazer algo de mais pessoal era cada vez maior. «Comecei a ter dores de artista, de não dizer o que eu acho acerca das coisas.» Agora, o difícil não é arranjar tempo para se dedicar à pintura a óleo, complicado mesmo é obrigar-se a parar para se dedicar ao trabalho. «É preciso pagar contas, mas tenho muita vontade de fazer coisas pessoais, e cada vez mais»
Curiosamente, a pintura a óleo também influenciou o seu método de trabalho no meio digital. Com o tempo, acabou por perceber que aquilo que funciona melhor num meio, funciona melhor no outro. «É exactamente a mesma coisa, mas em línguas diferentes.»

Assim sendo, está neste momento a trabalhar em duas séries pessoais, uma mais conceptual em forma digital e outra mais figurativa em tela a óleo, ambas com vista a galeria.
«A ideia dos retratos digitais: é um primeiro ensaio sobre a maneira como vemos os outros. As pessoas têm tendência a, quando nos olham nos olhos, fazerem algum tipo de pose, é mecânico.Daí a escolha do retrato de perfil, torna-se quase uma contemplação da pessoa, não uma interacção. Escolhi amigos, família, pessoas que só conheço online e pessoas que só conheci 5 minutos antes de pedir se as podia pintar. Ainda existe uma desvalorização da pintura digital
versus algo a óleo, o que acho absurdo, daí que aumento orgulhosamente alguns pixeis – e declaro – sim “É Digital”.

De futuro, gostaria de colaborar com artistas de áreas diferentes, como um músico ou um chef. Esperamos poder contar com uma exposição sua em breve, mas por agora, podemos acompanhar os seus trabalhos no seu site, página de facebook ou conta de instagram.

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