10 Perguntas a Filipe Melo
Um pianista, um argumentista e um realizador entram num bar...
Pianista, realizador de cinema e autor de BD, Filipe Melo é um dos artistas mais versáteis e corajosos da cena criativa em Portugal. Estudou no Hot Clube de Portugal e no Berklee College of Music, e venceu alguns prémios prestigiados de musica. atualmete é professor na Escola Superior de Música de Lisboa. Arranjador e orquestrador, tendo trabalhado com gente impressionante como John ellis, Peter Bernstein, Andrea Bocelli, Donald Harrison Jr. ou Martin Taylor. Mas como Filipe Melo gosta de armar confusão, também realizou dois vídeoclips para a “banda ofcicial” da Saída de Emergência, os Moonspell. Mas Camané, Carlos do Carmo, Deolinda, The Legendary Tiger Man e Sérgio Godinho também não resistiram ao seu charme.
e BD se complementam na tua vida?
Acredito que um indivíduo que se dedica às artes como profissão tem uma tendência a escolher a que mais o apaixona para se poder exprimir e produzir. No meu caso, essa escolha foi muito, muito complicada, porque a vida me foi levando por caminhos inesperados. A minha primeira grande paixão foi o cinema e a escrita de histórias, é algo que tenho desde que me lembro. A música surgiu mais tarde, na adolescência, e gerou em mim uma curiosidade e obsessão que ofuscaram tudo o resto. A BD aparece já em adulto, por me ter cruzado com um brilhante desenhador. Durante muitos anos lutei com esta dúvida, e achava que para ser bom em alguma coisa teria de escolher uma das ocupações. Hoje em dia percebo que não, que somos todos tão particulares e originais, e que só temos direito a uma vida, então devemos aproveitá-la para tentar fazer o que gostamos, da melhor forma que conseguirmos. Se isso se tornar a nossa profi ssão, melhor ainda.
2) E essas formas de arte infl uenciam-se
mutuamente?
Creio que, mais do que se infl uenciarem umas às outras, acabam por me infl uenciar a mim: fi co mais atento às coisas. Por trabalhar em escrita de histórias, por exemplo, comecei a prestar mais atenção à relação entre as pessoas e aos pequenos acontecimentos do dia a dia que normalmente ignoraria. Ao passar tantas horas ao piano e a ouvir música, fui aprendendo a apreciar e a entender os pormenores. O cinema, então, engloba tantas coisas que quase que sinto que me faz entender melhor o mundo, no geral. Acho que o processo de criação nessas áreas é muito semelhante
e, portanto, não as consigo separar, são, para mim, parte de um todo.
3)Tendo em conta as características de
cada uma, em qual das formas de arte te
exprimes melhor?
Nesta não sei muito bem o que responder, porque não há uma em que me consiga exprimir melhor do que na outra. O Dog Mendonça não seria possível fazer na música e não é possível sentir na BD o que se sente a tocar uma peça do Mozart ou do Bach… São mesmo coisas que se complementam.
4)Onde encontras o teu público mais fi el e
entusiasta?
Diria que, no geral, são públicos diferentes em cada uma das áreas, o que possivelmente explica porque é que muita gente não associa e acha, pura e simplesmente, que não é a mesma pessoa. Eu até gosto quando isso acontece, é divertido. Só muito recentemente é que conheci algumas pessoas que seguem o que faço, no geral, independentemente da área. Ainda não me habituei (e não creio que me habitue) a isso. No entanto, sinto que público mais fiel e entusiasta é aquele que, de facto, vê ou ouve as coisas com atenção. Aquele que dá opiniões pessoais, muitas vezes diferentes das minhas, sobre o trabalho – e isto acontece tanto na música como na BD como nos fi lmes. Fico sempre muito emocionado e grato quando vejo isso a acontecer, e com energia para fazer mais.
5) Se pudesses escolher, em qual das três
artes preferias fi car imortalizado?
Em boa verdade, sempre que enfrento um novo projeto,
seja de que espécie for, só quero que corra bem e que chegue
às pessoas. Melhor ainda se recuperar o investimento,
para poder fazer mais. Não me preocupo de todo com
qualquer tipo de imortalização, especialmente porque já
não vou estar por cá para a poder desfrutar.
6)O que respondes quando
te perguntam o que fazes?
Varia um pouco do contexto, mas
diria que a resposta “músico” ou
“pianista” tem ganhado, porque, para
todos os efeitos, é o que acaba por ser
a minha profi ssão. O resto são coisas
que vou fazendo, e que levo a sério,
mas nas quais não me considero um
profi ssional, por falta de horas de voo,
de tempo passado a exercê-las.
7) Que projetos tens para os
próximos tempos?
Depois de tanto tempo a trabalhar
em música, e, mais recentemente, na
BD, tenho muita vontade de voltar a
fi lmar, de trabalhar em cinema.
8) Como é um dia típico do
Filipe Melo?
Acordo, limpo a areia dos gatos (quando
é a minha vez) e depois começo a
trabalhar no projeto do momento. Varia
muito – ou tenho de passar umas
horas ao piano, ou então ao computador.
Vou sempre comer aos mesmos
sítios e, sempre que estou cansado,
vejo fi lmes ou séries. Quero ver se
passo menos tempo a trabalhar e mais
tempo com as pessoas próximas, sem
ter tanta preocupação ou ruído. É um
dos planos para o futuro próximo.
9) A pergunta difícil: Qual
é o teu livro favorito da
coleção Bang!?
Sou um velhadas. Gosto dos Contos
do Edgar Allan Poe, e daqueles livros
todos do Lovecraft que editaram. E
gosto muito da revista, mas não sei se
conta…
10) Completa a frase:
um pianista, um
argumentista de BD e um
realizador de cinema entram
num bar…
Respondo assim: