Quem foi Edgar Allan Poe? Génio, visionário, abençoado ou amaldiçoado pelos deuses? Um príncipe entre ficcionistas do macabro, um sábio entre críticos literários, um bardo tocado pelos deuses ou nada mais do que um homem atormentado pela loucura e pobreza e que desapareceu misteriosamente nos últimos dias antes da sua morte, dando origem a especulações fantasiosas sobre os eventos que lhe roubaram a vida de forma prematura? Muito foi especulado sobre a vida de Poe, e é difícil destrinçar o homem da lenda.
Nascido a 19 de janeiro de 1809, na cidade de Boston, os seus pais, um casal de atores de teatro, faleceram prematuramente, deixando-o órfão aos três anos de idade. Foi acolhido pela família adotiva Allan, residente em Richmond, Virginia, tornando-se Edgar Allan Poe.
A difícil relação com o seu pai adotivo forçou Poe a abandonar a universidade e a tentar viver profissionalmente da sua escrita como jornalista.
Quando se leem as histórias de terror de Poe, o medo e a escuridão são palpáveis. Os elementos de terror são opressivos por serem tão clinicamente dissecados pelo narrador, que tenta agir como um homem de razão e solidamente suportado pela ciência, mas que se vê assaltado por acontecimentos extraordinários.
Ilustrações integrantes da coletânea Os Melhores Contos de Edgar Allan Poe, publicada pela Saída de Emergência
Pai de histórias de detetives, muito antes da lógica dedutiva de Sherlock Holmes criada por Conan Doyle, e um dos pioneiros do difícil género da ficção científica, o seu génio não se detinha perante nada. Quando um género já existente não era suficiente para dar vazão à sua criatividade, sulcava novos caminhos de ficção.
Vulnerável às circunstâncias que o afetaram em vida e que o vitimaram, é um autor que, como todos os pioneiros forçados a desbravar caminho, sofreu na pele a incompreensão, malícia e desprezo dos seus conterrâneos. A sua obra apenas postumamente viria a ser reconhecida como visionária, apaixonante e assombrosa em muitos sentidos. Compreendia o medo como poucos e guiava o leitor por labirintos de gradual insanidade. Hoje, é melhor recordado pelas histórias de horror de uma profundidade psicológica sem igual, a par da sua poesia notável e apaixonante. Poe viveu em tumulto e constante sobressalto, atormentado pelo fantasma da precariedade financeira muito mais do que pelos fantasmas do além. Mas são os pesadelos poderosos da sua imaginação fértil que o tornaram num nome literário que iria ecoar pelos séculos como uma das vozes mais influentes e inspiradoras do século XIX, e que iria marcar parte da produção literária europeia posterior.
BANG!
Artigo retirado da Revista BANG! N.º 22, publicada em julho de 2017