Revista Bang!
A tua revista de Fantasia, Ficção Científica e Horror, onde podes estar a par das novidades literárias, eventos e lançamentos dos teus autores de eleição.

Luís Corte Real o autor por detrás de Benjamim Tormenta

Muitos dos nossos leitores já conhecem o autor do detetive, mas hoje decidimos partilhar um pouco mais sobre o Luís.

 

Muitos dos nossos leitores já conhecem o autor do detetive, mas hoje decidimos partilhar um pouco mais sobre o Luís.
Se calhar muitos de vocês até se vão identificar!

 

Luís Corte Real fundou a Saída de Emergência em 2003. Desde então criou a Coleção Bang! (que lança em Portugal os melhores autores de fantástico da atualidade e muitos clássicos) e a Revista Bang! (uma publicação semestral e gratuita dedicada à fantasia, FC e horror). Também editou autores como a Nora Roberts e Mark Manson, mas vocês não querem saber disso.

As paredes de sua casa estão ocupadas por todo o tipo de livros, banda desenhada, manuais de Dungeons & Dragons e Call of Cthulhu, jogos de tabuleiro, action figures e mais caixas de Lego do que aquelas que consegue montar. O Deus das Moscas Tem Fome é a sua primeira obra.

 

Um breve pulo ao passado

Desde miúdo que sonhava ser escritor. Nunca queria ser astronauta ou jogador de futebol – queria ser escritor. A ideia de ter uma obra com o meu nome, arrumá-la na estante ao lado dos livros dos meus heróis literários, fazer parte desse clube restrito que se vendia apenas em livrarias, fascinava-me. Mas cedo percebi que isso não ia acontecer: o miúdo, depois o adolescente, e mais tarde o jovem adulto que eu era, iniciava os manuscritos na maior empolgação mas depois de várias horas de sofrimento, quando olhava para o resultado prático – algumas meras folhas de texto, desanimava fatalmente: o peso do trabalho hercúleo que ainda faltava esmagava-me e desistia. Nunca deitei fora esses manuscritos inacabados pois tenho muito carinho por eles; permitem-me recordar quem eu era e aquilo que queria escrever. E o que eu queria escrever eram aventuras passadas nos anos 30 (pastiches do Indiana Jones), e fantasia épica (pastiches do J. R. R. Tolkien: até tenho mapas e genealogias). Apesar de tudo, George Lucas e Tolkien foram boas fontes de inspiração!

 

O prazer de editar

Com o passar dos anos o projeto de escrever ficção foi esmorecendo (até porque, como copywriter numa agência de publicidade, escrever já era o meu dia-a-dia), mas o amor aos livros nunca parou de crescer. Durante toda a minha vida, ler fora o meu hobby número um, dois e três: devorava todos os clássicos a que deitava as mãos (obrigado Editora Livros do Brasil), westerns e histórias de guerra (obrigado Europa-América), pilhas de policiais (obrigado Coleção Vampiro); romances históricos, fantasia, ficção científica, autores nacionais, muita BD europeia (obrigado Meriberica) e comics americanos (obrigado Editora Abril). Não escrevia ficção mas ganhava lastro – será possível escrever sem primeiro ler muito?

Sempre na órbita dos livros, as voltas do destino levaram-me a criar a Saída de Emergência em 2003, onde acabei por fazer o que de mais parecido existe com escrever um livro: editá-lo. Publicámos centenas de autores estrangeiros, muitos autores nacionais, mas destaco duas antologias cujo conceito propus aos autores: A Sombra Sobre Lisboa – com histórias lovecraftianas passadas ao longo da história da cidade, e Os Anos de Ouro da Pulp Fiction Portuguesa (coorganizada com o Luís Filipe Silva) – que inventava uma era e uma geração de escritores portugueses de pulp que nunca existiram. As vendas destas antologias não foram fantásticas mas como projetos criativos foram tremendamente recompensadoras – e publiquei dois contos de sword & sorcery (obrigado Robert E. Howard) na segunda delas. Pensei que ia ficar por aí, mas não foi assim…

 

200 malditas palavras

Podemos aprender tudo com os livros, exceto com os livros de autoajuda – esses apenas ajudam o autor e a sua conta bancária. Era assim que pensava até ler A Arte Subtil de Saber Dizer Que Se F*da de Mark Manson. É quase ridículo dizer isto, mas esse livro mudou a minha maneira de abordar a escrita. A certa altura o Mark conta a história de um autor com dezenas de obras publicadas a quem perguntaram como conseguia escrever tão regularmente e continuar inspirado e motivado todos os dias, ao que ele respondeu que o segredo era escrever duzentas palavras por dia, todos os dias. Para mim foi uma epifania: se eu tivesse a disciplina de escrever duzentas palavras por dia (bastava concentrar-me nelas e não nas duzentas páginas que faltavam), acabaria por terminar um livro. Impus-me mais uma obrigação: deveria escrever as palavras em bruto, sem corrigir ou rever – isso ficaria para mais tarde, quando o texto inicial estivesse terminado.

Fui buscar um conto inacabado que iniciara há alguns anos e lancei-me ao trabalho: era O Deus das Moscas Tem Fome. Independentemente de ter vontade de escrever ou não, de estar motivado ou com a cabeça já em outra coisa, durante algumas semanas obriguei-me escrever as duzentas malditas palavras por dia. Por vezes era um suplício em que cada palavra parecia arrancada a ferros; outras vezes escrevia mil ou mais antes de me lembrar de as contar. E funcionou: passado mais de um ano, depois de centenas de horas a escrever, outras tantas a pesquisar, inúmeras revisões e alterações, o conto não só estava pronto como se tinha transformado numa antologia de aventuras de Benjamim Tormenta, o detetive do oculto.

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