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O TABULEIRO MALAZANO DE STEVEN ERIKSON – PARTE I – por Nuno Ferreira

No Império Malazano, as lendas estão prestes a nascer...

A Saga do Império Malazano é uma das minhas sagas preferidas de fantasia e o mérito é todo de um senhor chamado Steven Erikson. O escritor canadiano esteve na ComicCon Portugal 2018 e deixou um retrato muito íntimo daquilo que é enquanto autor. Nas palavras do próprio, a Saga do Império Malazano é uma série inventiva de romances que falam sobre História, onde a magia tem o seu lugar muito particular. E é exatamente o facto de essa magia funcionar, o que difere o nosso mundo do mundo em que a sua narrativa tem lugar. Um mundo fragmentado onde as personagens por quem nos afeiçoamos podem morrer a qualquer momento.

O Império Malazano foi criado por Erikson em colaboração com Ian Cameron Esslemont como cenário de um RPG. Os dois arqueólogos e antropólogos construíram de base toda uma série de raças, cenários e até mesmo intrigas que funcionam como motor para a narrativa que se adensa para todos os lados, mais e mais a cada livro. Jardins da Lua, o primeiro volume, foi escrito como base para o roteiro de um filme, filme esse que nunca viu a luz do dia, e Erikson precisou de uma década até uma editora aceder em publicá-lo. Soubessem as restantes o sucesso que esta saga teria, e tudo teria sido significativamente diferente.

 

Em Portugal, a Saga do Império Malazano é publicada pela Saída de Emergência. Numa altura em que é lançado o livro Memórias do Gelo, terceiro na versão original e quarto na versão dividida da editora nacional, venho falar-vos sobre a série. Este artigo não visa propriamente anteceder os acontecimentos de Memórias do Gelo, mas acima de tudo dissecar a ação dos livros anteriores, Os Portões da Casa dos Mortos e O Caminho das Mãos, de forma a compreendermos melhor esta narrativa.

Jardins da Lua
Jardins da Lua
Os Portões da Casa dos Mortos
Os Portões da Casa dos Mortos
O Caminho das Mãos
O Caminho das Mãos
Memórias do Gelo
Memórias do Gelo

 

 

 

 

 

 

 

 

Até porque Memories of Ice (a versão original de Memórias do Gelo) seria, originalmente, o segundo volume da saga, mas acabou por ser publicado como o terceiro, após Deadhouse Gates. Gates só nasceu porque Erikson perdeu acidentalmente todo o conteúdo que havia escrito do livro Memories of Ice, tendo decidido começar a escrever sobre outras personagens, uma vez que não sentia a menor vontade de reiniciar no momento aquilo que havia perdido. Mais tarde esse trabalho renasceu. E, cá para nós, há males que vêm por bem! Deadhouse Gates é um livro extraordinário.

Comparativamente ao primeiro volume, Jardins da Lua, só posso dizer que os seguintes trouxeram muito muito muito mais. Mais criaturas estranhas, mais choques épicos e mais batalhas monumentais, mas acima de tudo mais humanidade. A dupla Os Portões da Casa dos Mortos e O Caminho das Mãos corresponde ao segundo livro na versão original, Deadhouse Gates, que trouxe não só uma melhoria na escrita elegante e riquíssima de Erikson, como um sentimento de desolação e de humanidade terrível a acompanhar as mil e uma desgraças das personagens. Porque sim, preparem-se para a desgraceira.

Se há algo que os fãs do Império Malazano sabem é que Jardins da Lua não agrada a todo o mundo. É o clássico 50/50. Mas reza a lenda que quem pega no Deadhouse Gates, vira fanboy quando o termina. E com uma lágrima em cada olho. Pessoalmente achei a primeira parte bem morosa e sem acontecimentos substanciais, mas o livro está incrivelmente bem escrito e é fundamental na preparação do leitor para a avalanche que vem de seguida. Steven Erikson não tem comiseração pelas suas personagens, e do início ao fim, a dor é um companheiro de aventura.

 

Vamos então saber do que se trata?

Se leste Jardins da Lua, habituaste-te à protecção da Cria da Lua, à luz e esplendor de Darujhistan. Pois a atmosfera é bem mais soturna e asfixiante em Os Portões da Casa dos Mortos e O Caminho das Mãos. Se o primeiro volume foi passado no continente de Genabackis, este ocorre nas Sete Cidades, em volta de uma profecia terrível e de um evento conhecido como o Furacão. A partir daqui, vou apresentar núcleos e facções, pelo que é normal encontrares pequenos spoilers.

 

 

O JOGO DE LASEEN

No primeiro volume, conhecemos superficialmente uma imperatriz de pele azul, que fora uma espécie de general do Império, pertence à força armada conhecida como a Garra, e que de algum modo mandou o Imperador Kellanved e o seu conselheiro Dançarino às urtigas e usurpou o trono para ela. O mundo pareceu não ter gostado muito disso, porque os sujeitos mais corruptíveis foram facilmente manipulados pela nova Imperatriz, enquanto que os lealistas à memória do Imperador permaneceram esperançosos num volte-face. Juntando a tudo isso, há as Cidades Livres que, pouco a pouco, foram resistindo aos seus avanços.

Laseen_by_dejan_delic
Laseen por Dejan Delic

Agora, nem tudo o que parece é. Se assistimos a uma revolta por parte dos homens fortes da sua estrutura militar e ao desvendar das verdadeiras faces da Resistência, percebemos neste desenvolvimento da história que o massacre a que se coseu a história de Laseen pode não ter sido mais do que um fogo fátuo destinado a ludibriar mentes e a camuflar os verdadeiros acontecimentos que levaram a napaniana ao poder. Neste segundo livro, conhecemos também um novo continente e novos esforços vindos de todo o lado para lhe resistir.

 

AS SETE CIDADES

 

Os Repetentes

São apenas cinco as personagens que transitam diretamente de Jardins da Lua para Os Portões da Casa dos Mortos. Violinista, que fora apenas um mero figurante no primeiro livro, assume o lugar de protagonista, como uma consciência ao lado de Kalam, o ex-assassino da Garra. Na teoria, eles acompanham Apsalar, Crokus e o macaco deste, Moby, em busca do pai da jovem para lá do continente das Sete Cidades, em QuonTali. Na prática, eles planeiam trilhar um rumo bem mais negro, porque fazem parte de um movimento de resistência contra a Imperatriz Laseen.

O que eles não esperavam era ter de lidar com os próprios conflitos internos do continente, como a chegada do Apocalipse e um turbilhão de metamorfos como soletaken e d’ivers. Mais tarde, guiado pela ambição de Ben Ligeiro e Whiskeyjack, Kalam separa-se do grupo, encontrando primeiro um monstro ciclópico chamado de Apto, uma aptória, bem como Minala e a sua família. O cabo dos Queimadores de Pontes, outrora assassino da Garra, leva avante a sua ideia de assassinar a Imperatriz, tendo para isso que atravessar um Labirinto e o alto-mar que o conduz à Cidade de Malaz, numa pequena ilha onde o Império nasceu.

 

Uma Amizade Rara

Por sua vez, Violinista, Apsalar e Crokus vêm a encontrar-se com uma dupla inimitável. O trell Mappo e o jhag Icarium são de raças distintas, mas inseparáveis. Repleto de dilemas internos, Mappo sabe um segredo sobre Icarium que pode acabar com a sua amizade, pelo que tenta esconder do amigo a sua verdadeira natureza. Eles enfrentam o enigmático sumo-sacerdote Iskaral Pust da Casa da Sombra, acabando por ser obrigados a colaborar com ele. Pust é o peão da terrível dupla de Ascendentes Trono Sombrio e Cotillion, que se vêm a revelar ser o tal Kellanved e Dançarino que se pensava terem sido mortos por Laseen.

 

 

 

 

 

 

 

 

É também neste núcleo que conhecemos mais pormenores da Casa Azath, que tem um portal na Cidade de Malaz, na chamada Casa dos Mortos. Aparentemente, existe um portal homólogo em cada continente, ligados através de caminhos ancestrais. Acede também ao inóspito Deserto do Raraku através da Azath chamada Tremorlor. Para além de funcionarem como transporte entre continentes, estas casas podem também funcionar como um caminho para a Ascendência, motivo pelo qual todos os metamorfos conhecidos como d’ivers e soletakens usam o Caminho das Mãos. É tornarem-se deuses o seu objetivo.

 

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