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Descubra as criações do ilustrador português Hélio Frazão

 

1. Conte-nos um pouco acerca de si. Como começou a ilustrar?

Como a grande maioria dos ilustradores, comecei desde miúdo a rabiscar. Nasci em França e como passava muito tempo fechado em casa, o meu dia era preenchido a ver desenhos animados e a ler revistas da Disney, nomeadamente do Tio Patinhas. Passava grande parte do dia a desenhar em tudo o que era lado (inclusive debaixo de tampos de mesas) e tinha grande interesse em um dia trabalhar para a Disney. Quando me mudei para Portugal, descobri as revistas da Marvel e da DC e começou a minha fixação com super-heróis, que durou bastante tempo, sempre a desenhar brutamontes com 300 abdominais e biceps do tamanho de bolas de futebol (o meu controlo sobre a anatomia não era o melhor na altura). Em meados dos anos 90, descobri a vertente manga/ anime, inicialmente com a Sailormoon mas rapidamente expandi-me para outros mangas. As minhas aulas eram passadas a rabiscar navegantes da lua, super guerreiros do DragonBall e personagens do jogo de luta “The King Of Fighters” da SNK para deleite dos meus colegas e frustração dos meus professores. Essa fase durou bastante tempo, até cerca dos meus 20 e poucos anos.

Aos 22, fui recrutado para o Exército Português devido ao serviço militar obrigatório, mas acabei por ficar lá como soldado voluntário durante cerca de 7 anos. Tive a oportunidade de fazer missões no exterior e numa delas consegui tirar férias e realizar o sonho de visitar Tokyo. Foi também nessa altura que comprei a minha primeira mesa Wacom e passei quase exclusivamente a desenhar digitalmente. Infelizmente, durante esses 7 anos o desenho foi ficando um pouco para trás, até cerca de 2008-2009, altura em que descobri o concept art. Foi aí que decidi enveredar por uma carreira artística a tempo inteiro, até porque o meu contrato com o exército estava quase a acabar e era a altura certa para uma mudança.

Depois de ter saído do exército, inscrevi-me no curso superior de Artes Plásticas da ESAD das Caldas da Rainha mas só fiquei por lá um semestre, visto que o currículo não se adaptava a aquilo que eu pretendia, uma aproximação à arte mais académica. Acabei por ser autodidata, estudando por conta própria com o objetivo de me tornar um concept artist. Nessa altura, concorri a uma bolsa de estudos na Odd School para seguir estudos na área de entretenimento digital e tirei o curso de Photoshop e Zbrush, tendo sido depois convidado pela escola para leccionar no curso de photoshop nas vertentes de digital paiting e matte painting. Ao mesmo tempo fui convidado pela direção da escola para integrar um estúdio chamado Yellow Mammoth em que fiz trabalhos ligados a publicidade e projectos internos. Ao mesmo tempo comecei a fazer trabalhos em freelance para jogos, e neste momento ando à procura de uma posição enquanto concept artist num estúdio de jogos.

2. Enquanto ilustrador, como lhe surgem as ideias? Qual o processo criativo? E que meios utiliza?

Eu não tenho um “processo” bem definido, tanto na criação como na execução. Tudo pode dar início a um conceito: uma imagem interessante encontrada na Internet, uma paisagem inspiradora encontrada nos meus passeios, uma situação vivida, uma musica inspiradora, um livro, etc. Muitas vezes começo com composições completamente abstratas com formas geométricas simples e passo bastante tempo a brincar com esses objetos, alterando cores e procurando formas interessantes. Enquanto isso vai acontecendo, a componente de história vai-se formando. Gosto que as peças sejam facilmente mutáveis no início, sem compromissos iniciais e deixar a própria ilustração falar comigo. Quando chego a uma composição satisfatória, é altura de aplicar todo o conhecimento técnico adquirido: luzes, regras de composição, atmosfera, anatomia, cores, etc. Gosto de dividir o trabalho nesses passes para me poder concentrar num aspeto de cada vez e não perder o rumo. Gosto também de mexer em vários meios. Não tenho problemas nenhuns em usar 3d, fotografias e pintura numa só imagem. Essas são apenas ferramentas para chegar ao destino. Posso num dia estar só a mexer em Zbrush ou Sketchup e no dia a seguir a fazer photobashing. Cada peça é executada consoante a temática: se for fazer uma ambiente mais urbano provavelmente irei usar um programa 3D para fazer uma base, se necessitar de criar uma personagem com várias vistas consistentes possivelmente usarei o Zbrush. Mas ao fim do dia, volto sempre ao Photoshop para terminar o trabalho ou explorar variações.

3. Qual a parte mais divertida do trabalho de um ilustrador? E a parte mais aborrecida?

A parte mais divertida é sem dúvida alguma a fase inicial de criação, da procura da ideia e da composição. É a fase mais livre, mais descomprometida. Os meus rabiscos abstratos provavelmente não dizem nada a muita gente, mas neles vejo naves espaciais a voar, uma estrutura perdida na selva, um monstro grotesco. Essa é sem dúvida a parte mais apelativa. A parte em que provavelmente menos me divirto é a parte técnica: verificar perspectivas, anatomia, se as luzes batem certas. Se estiver a trabalhar para um cliente há sempre a questão dos ajustes pedidos que se podem tornar maçadores após horas e horas a trabalhar na mesma imagem.

 

 

4. O que o inspira? E que diria a alguém que gostasse de tornar-se ilustrador?

Como já referi, a inspiração vem de todo o lado, onde menos se espera. Tentar ver as coisas não pelo que elas são mas o que podem ser: Uma peça mecânica pode dar o mote a um robot completo. Uma parede fotografada de determinado ângulo pode fazer nascer a ideia de um ambiente. Artisticamente, passo tempo demais no facebook a observar o trabalho de outros concept artists. Adoro o trabalho dos artistas conceptuais atuais, mas não dispenso os velhos mestres: John Singer Sargent em retratos, Albert Bierstadt em paisagens épicas, Syd Mead e o seu trabalho em design industrial, só para nomear alguns dos grandes.

Em relação a seguirem a carreira de ilustração ou concept art, só há mesmo um conselho que é tão velho como a arte: desenhar, desenhar, desenhar. Mas ao desenhar, não se limitar a copiar mas entender o que se desenha. Perceber como a luz interage com os objetos, como as formas são moldadas, qual a sua funcionalidade. Um sketchbook é obrigatório, tanto para desenhar como para apontar ideias. Não se limitem a copiar imagens da internet, saiam à rua e desenhem. Não se limitem a copiar, isso faz com que uma pessoa se torne uma boa maquina de cópias e não um artista. Façam sketches, muitos sketches, explorem ideias (eu já perdi a conta ao número de ficheiros Photoshops inacabados que tenho nos meus computadores). E acima de tudo, não desistam. A frustração é uma parte integrante do processo (até os artistas consagrados sofrem com isso): Desenhar a mesma coisa vezes e vezes sem conta sem ficar satisfeito. Geralmente isso prende-se com a evolução: o olho aprende mais depressa que a mão, mas eventualmente o “pulo” dá-se. Não tenham medo de experimentar outros estilos ou técnicas fora da vossa área de conforto, geralmente podem sempre aprender um truque ou dois que acabam por integrar no vosso workflow.

 

5. Que pergunta gostaria que lhe fizessem?

“Que tal é trabalhar na Naughty Dog?” era a pergunta ideal uma vez que é o meu estúdio de sonho. O caminho para lá é longo mas eventualmente hei de lá chegar.

 

 

 

Nascido em França em 1980, Hélio Frazão é um concept artist e ilustrador português. Após uma passagem pelo Exército Português, lançou-se na area de concept art em 2009, tendo começado o seu percurso profissional na Odd School e na Yellow Mammoth. Entre os seus clientes contam-se a produtora “Até ao Fim do Mundo”, “Kryptonfilms” e “Camel 101”. Generalista, gosta de variar de técnicas e estilos, desde o 3d ao 2d tradicional, passando do fotorealista ao mais cartoonesco. Considera-se um aluno eterno de artes. Podem encontrar o portfólio e o sketchlog. [/author_info] [/author]

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