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Entrevista a Luís Filipe Silva

OS ANOS DE OURO DA PULP FICTION PORTUGUESA


Poucos o sabem, mas a literatura de pulp fiction, que marcou toda a cultura popular dos EUA na primeira metade do século xx, também esteve presente em Portugal, e em força. Num trabalho notável de pesquisa, Luís Filipe Silva organiza a primeira antologia com a melhor pulp fiction portuguesa do século xx. Incontáveis horas em bibliotecas, alfarrabistas e colecções particulares, deste e do outro lado do Atlântico, resultaram numa obra que recupera um género injustamente esquecido, mas que marcou várias gerações de portugueses.


Houve um tempo em que heróis mascarados corriam as ruas de Lisboa à cata de criminosos; em que navegadores quinhentistas descobriam cidades submersas e tecnologias avançadas; em que espiões nazis conduziam experiências secretas no Alentejo; em que detectives privados esmurrados pela vida se sacrificavam em prol de uma curvilínea dama; em que bárbaros sanguinários combatiam feitiçaria na companhia de amazonas seminuas; em que era preciso salvar os colonos das estações espaciais de nome português; em que seres das profundezas da Terra e do Tempo despertavam do torpor milenário, ao largo de Cascais; em que Portugal sofria constantes ataques de inimigos externos ou ameaças cósmicas que prometiam destruí-lo em poucas páginas, antes de voltar tudo à normalidade aquando do último parágrafo.

SDE – Este é um Portugal que não conheço. O que nos podes dizer sobre estas histórias e sobre esta época?

LFS – São essencialmente histórias de pulp fiction – ficção popular, sobre detectives e fantasia e fantástico, na tradição do Leiber, do Hammett e do Howard – ambientadas em territórios portugueses ou de língua portuguesa – o continente, as ilhas, o Brasil, as ex-colónias –, escritas por autores portugueses, que entre as décadas de 30 a 60 gozaram de uma enorme popularidade e das quais hoje pouco se conhece. No seu conjunto, pode dizer-se que apresentam um Portugal alternativo, um Portugal de fantasia, habitado por todas estas estranhas personagens e onde aconteciam constantemente fenómenos espantosos.

SDE – Não fazia ideia de que tínhamos esta tradição. Como é que surgiu?

LFS – Basicamente por importação, como grande parte dos nossos movimentos literários. António Assunção, o principal editor português do género, ficou fascinado pela pulp americana quando viveu nos Estados Unidos e quis trazê-lao para Portugal. Nos anos 30, despediu-se do jornal para o qual trabalhava, convenceu Edgar Silveira a investir no projecto e juntos montaram toda uma indústria nacional de produção e publicação de pulps que chegou a ser conhecida no estrangeiro. Nos tempos áureos – sensivelmente entre o fim da Segunda Guerra e os finais da década de 50 –, publicavam-se mais de trinta títulos mensais, sobre temáticas tão distintas como histórias de guerra (muito se batia nos alemães, naquele tempo), de aviação, aventuras em alto-mar, bastante fantasia heróica e sobrenatural, sem contar com as inúmeras novelas destinadas ao público feminino.

SDE – Apenas com autores nacionais?

LFS – Sim, refiro-me apenas ao que era feito pelos portugueses – ou melhor, dizendo, lusófonos, pois os autores brasileiros passariam a ter uma importância fundamental nas décadas seguintes. A ficção estrangeira – nomeadamente, americana e espanhola – também ia sendo traduzida, mas está fora do âmbito desta pesquisa.

SDE – Então, que autores eram esses? O que escreviam? E vamos poder encontrá-los na antologia?

LFS – Os autores provinham das mais variadas origens. Alguns exerciam exclusivamente esta profissão, mas eram raros, pois o pagamento era baixo e atrasado, e o ritmo de edição não era obviamente igual ao do mercado americano. Era normal que acumulassem esta actividade com um emprego principal, ou um negócio. A grande maioria trabalhava no jornalismo, pelo que a transição não era difícil. Por vezes, ia buscar-se talento dentro de casa, à própria editora – e Assunção era um especialista no assunto, pois não só promovia concursos internos, como convencera a própria esposa a contribuir para quase todas as suas revistas. Ana Sofia Casaca foi, sem dúvida, uma das apostas fortes do género, com uma produção na ordem das centenas de contos, e não é por acaso que a antologia contém, perto do início, um dos seus contos mais famosos, «A Expedição dos Mortos», que é também uma ficção lovecraftiana (a relação entre Casaca e Lovecraft é explicada no livro), e também praticamente termina (se não contarmos com aquele texto «escandaloso» do Roger Bester) com ela. Aliás, confesso que fiquei verdadeiramente incomodado com o segundo conto, «Noites Brancas», o que, para quem já leu tanto terror, foi uma surpresa pessoal.

SDE – Quando é que foram publicados?

LFS – O primeiro nos anos 40, o segundo pouco após o Ano Negro.

SDE – Esse Ano Negro é intrigante, mas já voltamos a ele. Fala-nos de outros autores que podemos encontrar no livro.

LFS – Bem, temos o Artur de Carvalho, com o primeiro conto do bárbaro Valerian que publicou em português, depois do sucesso nos EUA – um bárbaro bastante inspirado no Conan, e que chegou a ser lido pelo Howard. Temos o Guilherme Trindade, com o famoso conto em que mata o detective «Valente», o qual gozava de tanto apreço pelos leitores que praticamente o obrigaram a ressuscitá-lo. Destaque para a Sónia Louro, com o «Pirata por um Dia», o conto inaugural da série sobre o pirata Duarte (e uma pena enorme que não tenhamos conseguido obter os direitos das suas lendas de Jambudvipa). Continuando nas sagas marítimas, não podemos esquecer A. M. P. Rodriguez, cuja real identidade se desconhece, de quem escolhemos «Pena de Papagaio», talvez o seu conto de despedida. Fomos também capazes de incluir Tiago Rosa, com  «Inconsciente», não obstante o facto de quase toda a sua obra ter sido destruída por um motivo ou outro… Quem mais? As nossas ilhas estão bem representadas: «A Ilha», do madeirense João Henriques, fala sobre assombração demoníaca e «Segundo Sol», do açoriano Ruy de Fialho, é um divertido confronto entre um grupo nazi e um agente português no meio do Alentejo. «A Noite do Sexo Fraco» é outra fantasia heróica, mas essa acabou sendo incluída mais pelos comentários do Vasquez Morgado sobre os cortes da censura do que pela originalidade da história.

SDE – Não falámos de todos, pois não? No índice, ainda encontro um Orlando Moreira e um Marcelo Galvão.

LFS – Ah, dois grandes nomes dos dois lados do Atlântico, criadores das personagens mais famosas da pulp fiction lusitana: Moreira com o seu famosíssimo justiceiro Sentinela, e o brasileiro Galvão com o pistoleiro Maxwell Gun – este, talvez o melhor western escrito em português. Do Moreira, não só contamos a história do Sentinela e o seu impacto na sociedade portuguesa, como conseguimos obter, junto dos filhos do autor, um texto inédito que possivelmente seria demasiado arriscado para a época. Por sua vez, Galvão era uma presença indispensável, pela importância que a pulp brasileira acabou por ter no nosso país, na viragem dos anos 70. Tenho pena de não ter podido incluir uma das histórias do seu Dr. Arkham Ashton, mas nunca apareceram em Portugal.

SDE – Parece-me que temos uma selecção bastante diversificada. Essa foi uma preocupação na escolha?

LFS – Sim, sem dúvida. Encontramos diversificação a todos os níveis, quer nas épocas de publicação (desde os primeiros tempos do género, nos anos 30, até ao final dos anos 70, quando para todos os efeitos já tinha desaparecido), quer nos temas – do western à ficção científica – e até mesmo a nível de autores, pois, não obstante a época e o género ser dominado pelos homens, temos uma representação ímpar e invejável por parte das autoras. Quis tornar-se a antologia num mostruário do género e do que este foi capaz de alcançar. Mas outros critérios andaram a pari passu com a diversidade, em particular a qualidade e a relevância. Qualidade de escrita e enredo – contos com uma componente «pulpica» bastante vincada, por assim dizer, em detrimento, por exemplo, de novelas românticas ou escândalos de ocasião – e relevância para os nossos tempos – contos que ainda hoje consigam ser lidos com interesse, com temáticas ou abordagens modernas, avançadas naquela era. Este último factor foi deveras importante. Não queríamos um livro enfadonho, académico, com histórias datadas ou ingénuas que limitassem o interesse para os leitores actuais. Queríamos transmitir a emoção do pulp. Daí que a antologia resultante seja substancialmente diferente das outras (poucas) que existem sobre o tema e que, francamente, com a notória excepção da Voz do Povo, são ilegíveis pelo abismo de sensibilidade literária entre os dias de hoje e aquele passado.

SDE – Como é que dizia o outro académico, o Matias? «Os clássicos ficam para sempre…»

LFS – «Se os clássicos são eternos, a ficção popular identifica uma geração.» É bem verdade. E, normalmente, desaparece com ela.

SDE – Foi isso que aconteceu à pulp fiction? É a razão pela qual pouco se conhece sobre o tema?

LFS – Houve um corte abrupto, no final dos anos 60, após o qual voltou a ser literatura exclusivamente vocacionada para crianças e jovens, essencialmente baseada em obras estrangeiras. Perdeu-se toda uma tradição de autores e personagens lusitanos, que já abordavam temáticas mais adultas. Também havia uma questão de moda, pois os estrangeiros abordavam temas diferentes, eram mais sofisticados e interessantes, e a pulp fiction, para as jovens gerações de 60/70, pertencia aos pais e avós, e por isso interessava-lhes pouco. Depois, foi uma questão de deixar o tempo e o esquecimento actuar.

SDE – Mas qual o motivo deste «corte abrupto»?

LFS – Bem, os principais motivos e consequências são explicados em maior detalhe na antologia, mas, basicamente, tratou-se de uma reacção do público, e, por conseguinte, do governo, à crescente intervenção política desta literatura. Do público, não por discordar necessariamente das mensagens, mas porque a intervenção surgiu de forma indecorosa – reacção que, por sua vez, também foi explorada e incentivada pelos órgãos de comunicação. Do governo, porque era incómoda. Publicou-se então uma lei que vetava ao esquecimento: fortalecia-se o controlo dos conteúdos, exigia-se uma licença especial de prazo limitado, faziam-se rusgas às gráficas… foi um período curto, mas intenso, que travou toda uma indústria. Ventura Matias chama-lhe o Ano Negro e, para os efeitos da antologia, adoptou-se essa designação.

SDE – Mas a literatura era assim tão intervencionista?

LFS – Raramente o foi. A pulp fiction era o que sempre foi, entretenimento, diversão. Claro que havia insinuações e duplos sentidos e comentários escondidos sobre acontecimentos e personalidades correntes – mas essas também as havia nos outros géneros e meios de comunicação. O que a pulp se atreveu a fazer, num dado momento, foi levantar-se e apontar o dedo de forma inequívoca. Reagiu o público, a medo, por incompreensão, reagiram os poderes instituídos, apanhados de surpresa. Acredito que só então perceberam algo que qualquer escritor, ou outro criador, sabe desde que apresenta a primeira obra a público: o poder da ficção – a que é bem concebida e desnuda a nossa posição na vida de uma forma que nos esclarece ou envergonha –, é superior a qualquer notícia, a qualquer denúncia, e espalha-se com mais força e rapidez.

SDE – Falemos agora do processo de criação. A antologia tem estado a ser prometida há vários anos, mas só agora consegue vir a público. Sei que o trabalho de pesquisa foi moroso e difícil, o que nos obrigou a sucessivos adiamentos. Podes falar-nos um pouco sobre isso?

LFS – Claro. Tudo começou com a descoberta, em 2007, de um exemplar da Falcão Lusitano, a revista mais vendida de Assunção e penso que a única que se manteve durante toda a sua carreira. Era o número de estreia do Gato Pardo do Orlando Moreira – o herói que este aceitou criar para Assunção, depois do desaparecimento misterioso de Silveira, o editor da revista Sentinela –, facto que era anunciado em letras garrafais na capa: «Um novo vingador corre as ruas de Lisboa», «Pelo criador do Sentinela», e coisas assim. Não fazia a mínima ideia de quem fosse o Sentinela, mas comecei a ler e encontrei uma escrita cativante, adulta, bem estruturada e moderna, como se tivesse sido escrita nos dias de hoje. A história terminava num cliffhanger inesperado, mas o meu amigo não tinha o número seguinte, pelo que comecei à procura em alfarrabistas. Não o encontrei (a não ser mais tarde, na impressionante colecção do Daniel Tavares), mas descobri outras revistas da época – Histórias de Além Mar, Ás de Espadas, Senda do Crime… «Isto é pulp fiction!», foi o que pensei, «E escrita por portugueses!». Quanto mais procurava, mais autores e revistas ia encontrando. Até ao ponto em que pensei que alguém devia recuperar este fenómeno das garras da História…

SDE – Muitas horas passadas nas bibliotecas, então?…

LFS – E não bastaram. Um dos grandes problemas do Ano Negro foi o Estado ter decidido que o género tinha uma natureza sensível e, portanto, remeteu todo o espólio das bibliotecas públicas para a Torre do Tombo, para ser liberto passados cinquenta anos. Se procurarem pela Falcão Lusitano, pelo Sentinela e por todas as outras revistas, não vão encontrar nada no catálogo da Biblioteca Nacional. Só no final desta década, se a lei não for revertida entretanto, é que todas essas revistas vão começar a ser libertadas. O que me valeu foram as colecções particulares e o facto de os vários coleccionadores irem mantendo contacto entre si. Por outro lado, como os exemplares são bastante cobiçados, há quem estabeleça um controlo firme sobre os alfarrabistas, pelo que se torna num golpe de sorte conseguir encontrar seja o que for neste circuito. Sim, este conjunto de circunstâncias infelizes conseguiu afastar a pulp fiction lusitana da nossa atenção. Espero que a Anos de Ouro… sirva ao menos para despertá-la.

SDE – É caricato pensar em todas aquelas revistas juvenis aprisionadas em arquivos bafientos, ao lado dos documentos realmente importantes. Não te faz lembrar aquelas séries passadas nas prisões americanas, com alguém ingénuo e inocente a ser enfiado numa cela de um criminoso duro?

LFS – Faz-me pensar de imediato numa história em que todos os heróis da pulp fiction lusitana teriam sido despachados para uma dimensão paralela e estavam a lutar para sair. E como não confiavam de imediato uns nos outros, pois poucos se cruzavam nos contos do passado, formavam alianças, lutavam entre si, enganavam-se, tudo para tentar perceber quem os enfiara ali e o que estava a acontecer-lhes. Coitado do Pequeno Bravo Tenente, que ia ter dificuldades em se impor por causa da estatura (o anão da Guerra dos Tronos comia-o vivo) e o professor Alves que não se cuidasse com a sua postura de sabichão, que o Valente dava-lhe uma boa coça. E no dia da libertação prometida, encontrariam Lisboa e Porto e Coimbra totalmente diferentes… muito diferentes do que conheciam. Conseguiriam voltar a integrar-se? Temos espaço para heróis nos dias actuais? Eis uma história que ainda gostava de escrever. Ou que alguém escrevesse.

SDE – Talvez para o segundo volume da antologia, se os leitores assim permitirem. Ficaram muitos contos para trás, não foi?

LFS – Os suficientes para mais alguns volumes, sim. Há muitas personagens que só afloramos de passagem, outras que nem foram mencionadas. Lembro-me de duas ou três sequências do Espectro da Noite bastante divertidas, e sem dúvida que Ana Casaca precisava de um livro só para ela. Mais uma vez, não é material que esteja facilmente acessível – nem sequer online, não existe praticamente nada –, pelo que esta seria talvez a única forma de o conhecer.

SDE – Esta, ou enveredar por uma pesquisa de vários anos…

LFS – Não vos recomendo… Na verdade, acabei por ter sorte, pois encontrei três obras antigas, dos anos 70/80, que já tinham feito muito do trabalho principal. Ventura Matias e Vasquez Morgado permitiram-me ter o enquadramento genérico de que precisava, bem como uma selecção preliminar dos contos (a Voz do Povo do Morgado é uma antologia fabulosa), e a autobiografia da Ana Casaca é simplesmente deliciosa e repleta de pormenores, ainda que seja tão fantasiosa que nunca sabemos exactamente quando está a dizer a verdade. O trabalho restante foi preencher as lacunas. Não queria limitar-me a escolher histórias, queria descobrir mais sobre os autores e as suas vidas. Essa foi a principal razão da demora: querer dar alguma carne a um nome, a um pseudónimo. A história da pulp lusitana está repleta de tantas peripécias (e alguns enigmas por resolver) que quase merecia um livro sobre ela.

SDE – Que tipo de enigmas?

LFS – O que aconteceu ao Edgar Silveira? Quem tramou o Assunção e publicou o conto que despoletaria o Ano Negro? Tinha de ser alguém muito chegado… Algum sócio descontente? A própria mulher, por ciúmes da Rodriguez? Porque era amante do Bester? Terá o Assunção desconfiado de algum caso entre ela e o Silveira e mandado matá-lo, sendo esta a vingança dela? E quem era a Rodriguez, afinal? Além das ligações com alemães e aliados durante a Segunda Guerra, contadas pela própria Casaca, e insinuações que o seu negócio do vinho do Porto era, na verdade, uma fachada para contrabando e espionagem. Ah, temos matéria para muitas páginas…

SDE – Mas infelizmente aqui esgotámos o espaço desta entrevista. Alguma mensagem final para os leitores?

LFS – Sim. Quisemos ser fiéis à época. O pulp não classifica apenas o tipo de histórias, mas também, ou principalmente, o material em que eram impressas – papel de baixa qualidade, que amarelece rapidamente e que se estraga com o manuseio; uma impressão descuidada, cheia de erros e composição. Tudo no pulp parece efémero, para consumo imediato. Talvez por esse motivo, quando se encontram pérolas, a vontade de preservá-las e colocá-las a par da grande literatura é enorme. Ao tentar transmitir esta experiência de leitura, optou-se – como aliás, Morgado já o tinha feito – por fac-similar as revistas ou colectâneas em que os contos apareceram, juntamente com ilustrações de época, anúncios, notas do editor, ao invés de simplesmente transcrevê-las para uma composição moderna… mantendo, assim, as histórias pulp no ambiente pulp, onde pertencem, e conseguindo no processo um livro com um visual espantoso.


*O presente texto segue a ortografia pré-Acordo Ortográfico.
Entrevista retirada da revista BANG! n.º 11, publicada em outubro de 2011.

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